domingo, 14 de julho de 2013

"Cantos de casas pobres no deserto...

Estou imerso... e sozinho. Percebeu que todos estão assim, ou dizem estar? As palavras sempre são as mesmas, todas elas, uma cópia da outra. São todos livros, com capas, ilustrações. Muda somente um pouco a história contada, mas sempre tem um mesmo estilo, algumas normas que todos seguem e para não variar, as mesmas palavras.
Eu queria criar palavras novas, diferente de tudo que já houvesse no mundo. Assim, meu livro e a história contada nele seria única, nunca vista pela humanidade, que parece estar grande. Eu realizaria meu sonho de deixar meu nome na história desse mundo. Mas me responda: por que este sonho? Muito complexo, o mundo é enorme, quantas culturas diferentes não existem e ainda quero colocar um nome na história? Complicado de se entender. Eu mesmo já tentei me desfazer ele, vestir outra coisa, me contentar com um sorvete de menta, o melhor mundo. Sei lá, parece que esse negócio de mundo me persegue, por mais que eu tente fugir. Uma simples fuga, um sorvete de menta numa noite fria, com um leve e melancólico vento, que faz um assovio lindo em nossos ouvidos, enquanto discutimos sobre psiquiatria. Amor, mas parece tudo quimicamente explicado para ela. Nesses pensamentos, votam a ideia de mundo. O sorvete, a profissão, qual importância eu e ela teremos no mundo? Como eu, ela também quer fazer alguma diferença, além de somente existir. Não entendo, mas acho tão estranho o fato de existirmos somente, e pensando na singularidade de cada ser, somos tão desprezíveis.
Já peço desculpas aos grandes senhores e donos da escrita mundial. Digo coisas que todos já sabem, que já escreveram, e sei que sou somente mais um, pequeno e miserável mendigo. Ao mesmo tempo que não faço questão nenhuma de lerem o que escrevo, me passa na mente a ideia de fama, aquela que todo ser humano já sonhou um dia. Ser reconhecido. Mas essa eu consigo me desfazer, logo visto uma roupa miserável e me ponho a escrever bobagens, coisas imundas de sujeira urbana. Sujeiras vinda da periferia, das favelas, do povo mesmo, aquele que não chega a se importar com vida com um significado, pois não tem tempo pra isso. Precisa trabalhar, sobreviver, e viver em um churrasco de fim de semana. Seu único lazer. Sua vida passará, e quando morrer, o mundo será o mesmo. Ou não? Tento acreditar que cada ser, por mais desprezível que seja, fez alguma diferença no mundo e no seu fluxo. Toda pessoa tem contato com outra, isso é comum quando estamos em uma sociedade, e mesmo os que estão fora, já passaram por ela no seu nascimento. Fizeram outras pessoas perderem tempo em pedidos de ajuda. E levar um tiro, estar com frio ou estar passando fome, já muda o futuro de muita coisa, e muita coisa muda tudo.
Quando penso em escrever, vejo a insignificância muitas vezes, já que como disse inicialmente, é tudo igual. Eu sempre penso naqueles que tiveram seus nomes grandiosos, vivos ou mortos. E procuro a cada dia tentar descobrir o que quero. Sei que estou seguindo nesta folha de momentos. Alguns deles somente querendo escrever, sem ninguém que leia. Esse é o melhor dos estados, não cria expectativas e nada mais. Escrever, pelo simples fato de precisar escrever, como o sangue que precisa circular pelo nosso corpo. Outro estado, é aquele que eu queria ter um leitor, um ou dois, somente para ler minha obra. De vez em quando aparece alguém assim, interessando em ler bobagens. Isso me faz alegre, as vezes. E por ultimo, eu acho, há momentos em que penso na grandeza, aquela que não foge de mim, em ser um dia reconhecido como um grande escritor, como os dos meus sonhos. Assim, seria bom.
Estes rabiscos em meio a areia desértica se enquadra em qual? Preciso pensar, você não, mas eu vou perder alguns segundos de um tempo que não tenho até o fim deste ano, somente para pensar nisso. Este me parece ter mania de grandeza. Eu não queria que fosse assim, mas dei vida a folha, e ela quer ser lida pelo mundo todo. Exagero, eu sei. Mas tem vontade de que muitas pessoas, algumas especiais, soubessem de sua existência. Já te aconselho, desista, não quero te ver chorando e se molhando, borrando as letras de tinta velha. Melhor aceitar que isso foi apenas um dialogo, entre eu você, folha, nesta noite quase congelante, perto destas casas pobres. Em que momentos me dirijo as pessoas do mundo, que não podem sentir minha fome. Eu posso, além de poder ouvir a respiração ofegante da menininha ao dormir. Começo a ouvir tiros, e luzes ao céu, como estrelas cadentes. Não mentirei para ela, são balas que tem como único objetivo na vida morte. São muitas, mais do que nós humanos, e mesmo assim, não se importam com sua existência, só querem a morte para onde vão.
Deixa eu largar esta caneta, e tampar os ouvidos dela, para que não acorde neste mundo de terror. Deixe que sonhe, que são esses sonhos, as folhas em branco, os momentos mais felizes que ela tem...

3 comentários:

  1. ''mas dei vida a folha, e ela quer ser lida pelo mundo todo. '' Isso não é exagero ,eu amo cada texto seu e posso me considerar uma leitora fiel,creio que o que você escreve excede ao que muitos escreveram um dia :)

    Claraclara

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  2. O mais interessante eh que poucas pessoas conseguem escrever assim, com ou sem pretensão, mas acabam por prender o leitor paragrafo por paragrafo e ai então, a historia se passa na nossa mente no exato momento que lemos cada detalhe. Considere-se um ótimo escritos, as recompensas por isso a de aparecer ;) super beijos . AnneCrisley

    www.annecrisley.com

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Nem pão, nem leite

Pensei em escrever. Há muito tempo isso não acontece de fato. Os anos passaram, algumas coisas mudaram e outras não. A civilização continua...