Loucura. Fuga. Deserto e uma pequena cidade. Somente
a roupa do corpo. Uma casinha, pequena, feita de umas três ou quatro paredes
lisas. Uma menininha no quarto, dormindo. Sonhando que escrevia e que todo seu
choro a folha absorvia e não molhava. E ela poderia chorar tudo o que quisesse.
E não importava problemas. Ela tinha uma folha. Esta é uma folha diferente. Eu desenho
ela para que possa entender. Mas preciso dos lápis coloridos que estavam
escondidos na parede. Não sei explicar, era um canto quebrado em que ela
guardava tudo o que era dela, tudo que gostava. Era pouca coisa. Uma memoria
diferente, ela guardava quase tudo lá. Garotinha legal. Eu pensei em entrar lá,
mas ela poderia me confundir com um deles. Voltemos às folhas. Descubro agora
uma controvérsia. Como pode guardar tudo, se os pensamentos escorrem e pingam
no papel e da mente nada sobra? Não sei. Tudo some quando olho para meu bolso,
o fundo escuro e um ponto de luz amarela, uma folha, às vezes branca. Tudo se esquece.
Mas volto o olhar para o horizonte empoeirado, uma ventania que leva areia para
todo canto, ainda aquilo me acalma. Não me acalma o que não escrevo, o que não quero
relatar. Pois perderia a folha ao pensar em escrever isto. Como? Ela foge, tudo
some, como se estivessem sendo sugadas por um buraco negro em um milésimo de
segundo. Talvez menos, por isso, sem pensar nos problemas do homem que passou
em minha frente cambaleando de bêbado ainda de manhã, eu a observo. Ele se
embriagou por conta, agora se quiser ficar parado, sofra com sua dor de cabeça.
Importa-me mais a garotinha dormindo.
Uma mascara de gás. Venha, pule, eu te trago de
volta quando forem embora, mas agora precisamos ir! Esta bem, pegue logo suas
coisas, não para sobreviver a semana, não precisa. Só isso, esquece a semana, já
disse, ela é importante, mas eu a deixo insignificante. Vamos para aquela
direção.
Ela sabe meu idioma, como aprendeu? Não sei,
corremos de lá. Oriente médio. Em algum lugar que tem muita areia, caso nos
localize, mande nos alimentos, não quero ter que ensinar esta doce garotinha a
roubar a banca de maçãs, nem a escrever artigos professor, ela não ira fazer
esta prova para ter uma cela separada. Seus olhos sãos negros... Pandora?